Economia: Hugo Boss fecha em Itália e deslocaliza calçado para Portugal.

Hugo Boss vai encerrar a sua fábrica em Scandicci, localidade nos arredores de Florença, e, segundo os sindicatos italianos, pretende deslocalizar para Portugal a produção de calçado de senhora e para a Ásia o fabrico de artigos de couro.A notícia, avançada em fevereiro pelos jornais italianos, com base no protesto dos três sindicatos italianos, em defesa dos 21 funcionários da unidade de Scandicci, integra a mais recente edição do jornal da Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos (APICCAPS), que dá conta que a possibilidade de transferência da produção de calçado da marca alemão para Portugal “é real, numa perspetiva de manter a proximidade de fornecimento em relação aos mercados europeus”.O grupo alemão dispõe, ainda, de outra fábrica em Itália, na região de Morrovalle, além de unidades na Turquia, Polónia e Alemanha. Destaca a notícia da APICCAPS que, em dezembro, a Hugo Boss ampliou a fábrica na Turquia, em Izmir, “apostando na capacidade daquele país ainda poder exercer pressão direta sobre as taxas de câmbio”, sublinhando então que um dos seus objetivos era “reduzir a sua dependência do território do Sudeste Asiático”. A transferência da produção dos seus artigos de marroquinaria para a Ásia parece contraria essa estratégia.Em agosto do ano passado, a Hugo Boss apresentou a sua nova estratégia de crescimento, com a qual pretende atingir vendas de quatro mil milhões de euros até 2025, posicionando-se no top 100 das marcas líderes no mercado global. O grupo fechou 2021 com uma faturação de 2.786 milhões, mais 43% do que no ano anterior, mas ainda 3,39% abaixo do período pré-pandemia. Questionada, a APICCAPS garante que a indústria do calçado é, cada vez mais, procurada por marcas internacionais, um movimento acentuado por via da pandemia. “Muitas marcas perceberam o perigo da sua dependência excessiva de mercados longínquos e sem mecanismos de proteção e escolhem Portugal, porque é uma referência ao nível da produção de calçado de excelência, porque é internacionalmente conhecido como um parceiro fiável de negócios e porque, além disso, tem uma capacidade de resposta muito boa, designadamente nos segmentos de maior valor acrescentando, bem como na área da sustentabilidade”, diz o diretor de comunicação da associação. E acrescenta: “Portugal é um parceiro que cumpre todos os requisitos do ponto de vista da responsabilidade social e das normas ambientais e, como tal, é um parceiro de negócios muito requisitado”.Sobre a capacidade de resposta a esta procura acrescida, numa altura em que a falta de mão de obra parece ser um problema, Paulo Gonçalves lembra que essa é uma questão transversal a vários setores de atividade em Portugal, mas não só. “Estima-se que a indústria da moda europeia vá necessitar, na próxima década, de 500 mil pessoas. Mas o problema não é só nosso. É importante também dizer que há um movimento bastante acentuado de empresas chinesas que estão a migrar do litoral para o interior do país, precisamente porque começam a sentir uma escassez de mão de obra. É um fenómeno transversal”, frisa.Paulo Gonçalves admite que será necessário que a indústria portuguesa “encontre respostas à altura do desafio”, “não só com ações de sensibilização junto dos mais jovens, numa perspetiva de médio prazo, mas, também, procurando requalificar trabalhadores e, eventualmente, integrar imigrantes, se necessário for”. O setor terá, ainda, de continuar o movimento iniciado já há algum tempo de deslocalização da produção para concelhos do interior, onde existe maior disponibilidade de mão de obra. “Este é um problema que existe hoje e que continuará a existir nos próximos anos e para o qual temos que procurar respostas integradas”, sustenta. 
 Fonte: https://www.dinheirovivo.pt/Texto: Ilídia Pinto

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